Olhando para as imagens, este parece ser à primeira vista mais um genérico jogo de plataformas. No entanto, rapidamente nos apercebemos da sua verdadeira riqueza e, afinal, aquilo que pensávamos ser um jogo de plataformas puro oferece-nos na verdade imensos elementos RPG num mapa à lá Metroidvania. Somos Daniel, um rapaz geek a jogar uma partida de Dungeons and Dragons juntamente com os seus amigos igualmente geeks. As conversas geeks dominam claramente a noite. No momento em que Daniel decide ir à casa de banho, é magicamente transportado para dentro de um enormíssimo castelo cheio de divisões ao estilo Metroidvania, mas com cenários medievais como grande parte dos RPGs o pede. Não sabe como foi lá parar, não sabe como sair de lá. O seu único palpite é que deve estar a sofrer alucinações (ou pelo menos é isso que ele quer acreditar). Dentro de Daniel encontra-se um espírito mau que o tentou possuir, mas que falhou redondamente. É este que nos (Daniel) vai dando dicas do que fazer a seguir. Porém, desejando esse a nossa morte para se poder libertar, iremos precisar de ter cuidado com certas rasteiras que ele nos irá tentar pregar.
Os diálogos são constantes, mas não saturantes e estão cheios de referências não só a livros ou filmes de acordo com o tema, como os famosos Lord of the Rings e Harry Potter, como também a outros videojogos de consolas retro. Como não podia deixar de ser, os jogadores mais geeks vão-se sentir em casa aqui. Posso perfeitamente imaginar o grupo de amigos da introdução como sendo o cast da série The Big Bang Theory. À medida que procuramos por segredos no castelo (que deixem-me dizer-vos, é bastante grandinho), vamos encontrando outros personagens típicos desta temática. Ora nos pedem ajuda para resolver certas tarefas, como ir buscar o animal de estimação algures perdido ou nos colocam à prova, desafiando-nos a derrotar o mauzão que raptou todas as donzelas. Para além de todo o tema, o que de facto aproxima este jogo de um RPG é a exploração do castelo, são os pontos de experiência que ganhamos ao derrotar trolls e outros monstros, são os feitiços que podemos criar misturando vários ingredientes (língua de serpente, asa de morcego, pozinhos mágicos…) e são as inúmeras armaduras e armas como a espada, machado e arco, entre outras, também elas com possibilidade de aumentar de nível.
Vamos necessitar disso tudo, pois podemos dizer que já no início do jogo nos deparamos com inimigos que nos vão dificultar bastante o progresso. Não é um jogo em que vamos perder poucas vidas. Felizmente existem também imensos save points durante a aventura e bastantes níveis de dificuldade para escolher no início. Por outras palavras, apesar de desafiante, nunca chega a ser frustrante. Isto se não formos a abrir caminho à toa sem pensar estrategicamente. Cada inimigo é mais vulnerável a um certo tipo de arma, basta descobrir qual e se o machado é óptimo para ataques melee o arco é o ideal quando queremos derrotar mauzões que se encontram a longa distância. E com tanta arma e poção disponível, o melhor seria ter tudo à mão sem ter de recorrer constantemente ao menu. Felizmente é isso que acontece. Graças ao Gampad da Wii U, podemos colocar cada objecto em um dos 20 e tais espaços reservados no ecrã à nossa disposição. Com um simples toque, ficamos imediatamente com a arma certa na mão. É uma ideia bastante simples, mas muito bem-vinda. Longe vão os tempos em que tínhamos de estar sempre a perder tempo ao carregar em pausa.
Indo ao encontro do tema e ambiente que tenta proporcionar, Unepic apresenta um visual retro mas também moderno. Deixem-me explicar. Retro também muito devido à jogabilidade. O nosso personagem move-se entre vários departamentos do castelo e à medida que acendemos as muitas tochas e lanternas, vamos “desbloqueando” essas divisões do mapa. No fim ficamos com uma bela figura de um labirinto que se assemelha a muitos RPGs agora nostálgicos. Com isso vem o facto de não haver grandes cutscenes nem mudanças no enquadramento. O plano da câmara mantém-se fixo. Apesar disso, as várias texturas e belos cenários só seriam possíveis com a tecnologia de hoje.
Não se verifica o caso de muitos jogos indie que apresentam gráficos demasiado semelhantes aos da era 8-bit. Depois é simplesmente lindo e compensador ver todas as chamas do departamento acesas. O próprio som de quando acendemos as tochas dá-lhe aquele toque mágico. Por falar no som, existe voiceacting e este não é apenas um diálogo disperso aqui e ali. Todos os diálogos são acompanhados pela respectiva voz. Quer os personagens estejam chateados ou entusiasmados, tudo é perfeitamente notável pelo tom de voz. Não podiam ter feito um melhor trabalho neste aspecto, indo ao encontro das grandes produções.
Unepic é um jogo para os amantes de RPGs. Para os amantes dos jogos clássicos. Para os amantes de uma boa aventura, com uma história interessante num mundo convidativo. Mas especialmente, Unepic é pensado nos mais geeks que sempre procuraram um jogo que os respeitasse e em que se notasse que os próprios produtores são também eles verdadeiros geeks. Este é um dos melhores jogos que podemos encontrar no eShop da Wii U neste momento.